Lama, areia, entulhos e muita sujeira compõem o cenário de várias ruas e bairros de Rio Branco, após a vazante do Rio Acre. Com o nível das águas cada vez mais baixo, muitas famílias começaram a retonar para casa. Algumas se dedicam desde sábado (7) à árdua tarefa de limpar seus lares. O Rio Acre está com a marca de 16,55 metros na capital, na medição das 12h desta segunda-feira (9), segundo a Defesa Civil Estadual. O maior nível que o manancial atingiu foi no dia 4 de março, quando chegou a 18,40 metros. (Veja como ficaram alguns bairros após vazante) O pedreiro Maurivan de Souza conta que há dois dias tenta terminar de limpar sua casa, localizada na Rua Ari Rodrigues, no bairro Ginásio Coberto. Ele diz que começou pelas paredes, depois partiu para o piso e ainda falta o quintal. Muitos móveis e objetos tiveram como destino o lixo, após a passagem das águas. “Destruição total. Perdemos cama, guarda-roupa e outros objetos, fiquei na casa de um amigo da gente. Nunca tinha visto nada parecido”, diz. Vizinha de Maurivan, a aposentada Maria Rosa, de 69 anos, voltou para casa apenas nesta segunda-feira (9). Ela mora no local com a filha, grávida de sete meses, e o genro, e diz que jamais tinha visto uma enchente desta proporção. Por uma semana, ela ficou abrigada na casa da outra filha, no bairro Residencial Rosalinda. “Tem muito estrago, perdi cama, guarda-roupa, fogão, dois televisores”, contabiliza. Com uma enxada, a servente-geral Maria dos Santos arrasta a lama concentrada na frente da casa dos pais, de 68 e 76 anos, no bairro Cadeia Velha. Ao mesmo tempo, o marido dela estava na rua de trás limpando a casa deles, que também alagou. “A água começou a baixar no sábado, mas só conseguimos chegar aqui ontem. Estragou tudo, já retiramos muito lixo, lama e o fedor, que ainda está insuportável. Agora é esperar secar, limpar tudo e aí meus pais vão voltar para casa”.   Estragos maiores Marta Lima de Oliveira, que também mora no bairro Cadeia Velha, afirma que quase todos os anos convive com a enchente na região. Mas, neste ano, a água chegou com mais força, e os estragos deixados foram maiores. Na casa dela, a limpeza começou no domingo (8) e não está nem perto de terminar. “Perdi guarda-roupas, rack, mesa do computador. Tinha acabado de pintar a casa, agora a gente abre a porta e olha tudo cheio de areia e lama”, lamenta. Até a manhã desta segunda, a decoradora de festas Maria José, de 29 anos, evitava ver o que restou de sua casa. Ela foi informada pelo cunhado que perdeu tudo que levou anos para construir. Casada e mãe de uma menina, ela não contém as lágrimas ao falar sobre recomeço. “A gente trabalha tanto para ver tudo se perder. Minha casa sempre foi de dois pisos, suspendi tudo na altura da janela, mas a água alcançou. A única coisa que salvei foram as minhas roupas. Tentar recomeçar é difícil”, desabafa em choro contido.   Bombeiros pedem cautela Para o capitão Cláudio Falcão, do Corpo de Bombeiros, ainda é cedo para que as famílias atingidas pela enchente voltem para casa. Segundo ele, o Rio Acre ainda está com uma cota muito alta e é preciso cautela. “Só vamos tratar do retorno das famílias, principalmente as que estão em abrigos, quando tivermos uma margem segura do nível do rio, ou seja, quando estivermos abaixo da cota de 14 metros. Quando tivermos as previsões se o rio pode aumentar ou não. Não temos a certeza de que o rio não vai voltar aumentar. Pedimos que as famílias tenham paciência, compreensão, e que esperem mais um pouco”, diz o capitão.